Agenor, que nos recebeu na comunidade, nos levou conhecer uma casa de farinha, onde uma família estava em plena labuta.

“Tenho 4 tarefas de roça[1], com a família. As roças são mecanizadas [preparo da terra com trator], porque isto reduz a área de roçado necessária para cada família. Fazemos rotação com leguminosas, para fertilizar o solo.

“Estamos no 3º ano de roça na mesma área. No 1º ano, plantamos milho, que se colhe rápido (3 meses), consorciado com maniva (mandioca), feijão, melancia, jerimum (abóbora), e outras plantas. No 2º ano, fazemos a replanta. No 3º ano, fazemos a replanta, mas plantamos também frutíferas e outras árvores, em particular das espécies que estão desaparecendo da floresta: copaíba, ipê, mogno, maçaranduba, pequiá…

“A gente aprendeu no curso sobre sistemas agroflorestais, que a prefeitura organizou, com apoio do SENAR. Pedimos um curso de gestão ambiental, mas ainda não foi dado. Conseguimos também implantar o Ensino Médio, em telecurso, pelo programa Mundiá, da Fundação Roberto Marinho.

“Agora, já temos cinco casas de farinha, com poço artesiano, motor para a seva, forno fechado, que economiza a lenha utilizada na farinhada. Temos projeto para mais cinco.”

Para quem não convive no meio rural brasileiro, talvez seja necessário explicar o que é uma “tarefa” de roça. Trata-se de uma unidade de medida de superfície, que tem dimensões diferentes de região para região. Na região de Gurupá, a tarefa mede “25 braças por 25 braças”, cada braça tendo aproximadamente 2,2 m. Na teoria, portanto, a tarefa tem 3.025 m2, pouco menos de 1/3 de ha.

Entre a teoria e a prática há um caminho tortuoso: a medida é mais que aproximativa. Em 1996, na primeira reunião realizada na região, justamente no Jocojó, solicitei que um ribeirinho me explicasse como mediam uma braça e uma tarefa: ele levantou o terçado (facão) e disse: “corto a vara na altura da ponta do facão e meço 25 braças de quadra”. Ele era pequeno e usava um facão pequeno. Detectei na sala outro ribeirinho, bem alto, com um facão também bem maior. Pedi que mostrasse a braça dele. Todos concordaram que os dois mediam uma braça, apesar de mais de 50 cm de diferença entre elas.

Cheguei à conclusão de que a área era um parâmetro muito relativo e inoperante para qualquer cálculo econômico. Em compensação, todos tinham uma noção precisa da quantidade de dias que tinham dispendido em suas roças, para cada atividade. O dia de trabalho passou a ser a minha unidade de medida de área em todo o trabalho e, sem exceção, era um parâmetro percebido e aceito por todos nas reuniões coletivas ou nas conversas individuais.