Conquistar a terra foi só um passo, uma etapa para novas conquistas. Ouçamos Arimatéria, professor e um dos líderes da Associação. 

Nós somos pobres, mas somos ricos, já tem casa, energia, antes o telhado era de palha, hoje, de telha, todos tem água, que vem de um poço que alimenta das duas vilas.

Temos internet. O que acontece na cidade ou á fora, a gente já sabe. Estamos vendo se chega internet para a escola.

Antes, o a lenha e o paneiro de farinha eram carregados nas constas, agora, é na moto.

No início, tinha 30 famílias na comunidade. Nas duas vilas, tem 55 casas, mas tem casas com duas famílias. Chega a 70 famílias na comunidade. Tem também gente que está na cidade, mas faz parte da comunidade e da Associação. Então, consideramos que temos 90 famílias na associação.

A associação ficou com o projeto de construção de casas do Minha Casa, Minha Vida Entidades[1]. Já construíram 30% do projeto, mas estão com problemas com a empresa (construtora).

As atividades que tinha antes, continuam. Continua o sistema de coivara[2], com plantio de mandioca, que alguns misturam com milho, feijão. Tem o pescado. Mas, a importância das roças e da farinha de mandioca tem diminuído. Mas, muitos tem outras rendas. Agora, tem também o funcionalismo.

Só na escola, trabalham 17 pessoas, todas concursadas. São 136 alunos, em 3 turmas multisseriadas, com duas séries por turma (3º e 4º , 6º e 7º, 8º e 9º). Foi uma briga muito grande para chegar do 6º ao 9º ano. Foi quando o Moacyr *****[3] assumiu é que veio refeição.

Eu me formei no projeto Gavião II, do prefeito Moacyr, de ensino modulado: de janeiro ou fevereiro, a julho, estudei até o Ensino Médio, com magistério. De 1996 a 2002, cursei Educação no Campo, no IFPA – Instituto Federal do Pará. Aqui, tem mais 3 professores formados em Educação no Campo. Tivemos 28 alunos neste curso, que aconteceu em Gurupá.

Emanuel, outro morador da comunidade, um dos filhos de Duca Castro, líder antigo da comunidade, presidente da ARQMR – Associação dos Remanescentes de Quilombo da Maria Ribeira, complementa o relato.

Na minha adolescência, tinha menos de 15 famílias. Hoje, tenho 44 anos e são entre 85 e 90 famílias. As residências eram de palha, hoje, de alvenaria. As estradas são aterradas. Fizemos dois ou 3 portos, aterrados, para a gente poder chegar nos barcos de moto ou de bicicleta. Sempre reforço que a energia 24 horas por dia, é herança do nosso presidente Lula.

Meu pai, que é o presidente da associação, está com problemas de saúde. Está internado em Belém porque tem diabetes, pressão alta e desenvolveu um soluço que não passa nunca, que dá dor de garganta. Então, a associação está um pouco lenta.

O primeiro projeto que fizemos foi o Plano de Manejo Florestal. O segundo, o Minha Casa, Minha Vida. Este projeto foi feito para 50 casas, conseguimos concluir 30. É muita burocracia na Caixa Econômica Federal. Tivemos problemas com as empresas que iam tocar as construções. E teve a mudança de governo.

A saída do presidente Lula piorou tudo. A entrada do presidente atual [Bolsonaro], que não nos representa, atrapalhou tudo. Na nossa sessão de votação, tivemos 100% de votos para o Haddad. Foi a única de Gurupá. A nível municipal, as coisas estão também um problema: piorou a desgraça.[4]

Eu sou professor também. A escola foi uma conquista. Mas, hoje, falta material, falta merenda, recebemos os pagamentos atrasados, falta concluir a construção do banheiro. Estamos ainda trabalhando, mas é difícil.

Temos também a igreja, que funciona juto com a associação. Todos, na comunidade, são católicos, não tem evangélicos. A gente reveza entre as duas vilas: as celebrações são realizadas um mês em cada capela. Coincide com os festejos dos santos de cada capela. No primeiro domingo do mês, são os jovens que organizam. No segundo, os veteranos, no terceiro, as mulheres, no quarto, as crianças.

Notas

[1] Linha do programa habitacional criado pelo governo Lula na qual o financiamento é concedido para uma associação, que podem construir em forma de mutirão de auto-construção, ou contratando uma empresa, o que a associação local resolveu fazer.

[2] Plantio de mandioca em capoeiras, terras que são deixadas em pousio durante alguns anos.

[3] Prefeito do PT, **********. O município de Gurupá foi governado, durante mais de 20 anos, por prefeitos do PT, oriundos, em grande parte, do movimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, das CEB, ou do sindicato dos professores municipais.

[4] A prefeita do município, em 2019, era ****. Na verdade, quem dava as cartas era seu marido, que havia sido impedido de concorrer por conta de várias condenações na justiça por roubo, estelionato, uso de documentos falsos, entre outros crimes.