Seu Benedito nos conta os avanços com a criação da RESEX Gurupá-Melgaço.

A RESEX da ASTREM [1], onde fica a comunidade do Marajoí, foi criada em 2007, se não me engano. Antes, a gente extraía madeira para vender, mas fazia 4 anos que não tínhamos mais madeira para tirar e vender. 

Para que as famílias parassem de gastar a natureza, as famílias iam receber uma cesta básica. Mas, faz 12 anos, ainda não chegou a cesta. Mas, hoje, a maioria dos moradores tem filhos que moram aqui, empregados: professores (temos 8 salas de aula), merendeiras, etc. 

Com a criação da RESEX e com estas melhorias, paramos de tirar madeira e de devastar a mata. 

Também reduzimos o corte de capoeiras para o cultivo de mandioca e das outras produções. Em terra firme, na capoeira de uns 3 anos de pousio, a mandioca dá mais rápido: com 6 meses já dá para ir colhendo. Nas terras de mata ou de capoeira com muitos anos, leva um ano ou mais. 

Antes, depois de 2 anos, quando a terra cansa, a gente derrubava capoeira em outra área, para sempre ter terra boa. Agora, reduzimos o uso das capoeiras: compramos farinha em Gurupá, produzida nas comunidades de terra firme. 

Aqui, a gente festeja São Sebastião (padroeiro da comunidade) e São Pedro. A gente fazia promoções, arrecadava de R$ 3.000, 5.000 para os festejos: leilão de frango ou de artesanato feito de cipó (paneiros, cestos), bingos, coisas assim. 

Dados do ICMBio mostram que, antes mesmo da criação da RESEX (ver adiante), os ribeirinhos reduziram a quase zero o desmatamento na região: em 2001, foram desmatados 1.287 ha; desde 2003, a média anual está abaixo de 30 ha [2]. 

Em 2013, o II Chamado dos Povos da Floresta [3], que reuniu mais de 1.000 extrativistas da Amazônia, foi realizado na RESEX Gurupá-Melgaço, da qual faz parte a comunidade de Marajoí. 

Este encontro serviu para que, mais uma vez, as comunidades mostrassem que a criação da RESEX não resolve tudo: é necessário que as comunidades tenham recursos, energia, apoio dos poderes públicos, fontes de renda digna, etc. A extração de madeira, em princípio proibida, continuava a existir, em particular por representar uma fonte de renda fácil para as famílias, que passam por necessidade [4]. 

Notas

[1] ASTREM é a sigla de Associações dos Povos Tradicionais Extrativistas do Rio Pucuruí, Marajoi e Melgaço, que representa as 800 famílias que residem nas comunidades da área da RESEX Gurupá-Melgaço, nos Municípios de mesmo nome, no Pará. A RESEX foi criada em 2006, com 14.000 ha, o que corresponde a cerca de 10% da área destes dois municípios. O termo de concessão e o contrato com a comunidade foram assinados em 2011. Em 2013, foi aprovado o Plano de Gestão apresentado pela ASTREM. Para saber mais: https://uc.socioambiental.org/pt-br/arp/4637

[2] https://uc.socioambiental.org/pt-br/arp/4637 

[3] https://uc.socioambiental.org/pt-br/noticia/13405 

[4] https://uc.socioambiental.org/pt-br/noticia/133973