Seu Benedito, que nos recebeu em Marajoí, nos conta um projeto que não teve sucesso: a fábrica de conservas de palmito, que permitiria a venda do produto processado, trazendo mais valor agregado para a comunidade.

Cheguei aqui em em 05 de abril de 1975, não era daqui, mas fiquei, estou feliz. Vim de Breves porque lá, não tinha terra firme para trabalhar. Trabalhava na roça, mas depois que meu velho morreu, fomos para Belém. Os filhos que saíram da roça doaram a posse que a gente tinha para os que ficaram. 

Aqui, onde a gente está, não tinha ninguém. Quando a gente chegou no Marajoí, tinha o Francisco Pires Serra, que se dizia proprietário do lugar. Na verdade, ele era representante da empresa que se dizia dona da terra, a IMBIATRIZ, com sede em Paraíso, no Amazonas, que tinha 62 propriedades no rio Marajoí.

O Francisco tinha um engenho de farinha e cedeu uma ‘colocação’ para a gente. A gente tinha que comprar as coisas no comércio dele vender a produção para ele, para pagar as contas do comércio.11 Para fazer a farinha, a gente ia no engenho dele. Mas tinha que vender a farinha e a madeira para ele. 

A venda do açaí começou bem cedo, desde 1975, para a firma Leão, do Rio Curumú. Eles foram os primeiros, levavam para Santana12 ou Macapá. 

Depois foi que começamos a vender o palmito. Tinha uns 30 e tantos sócios [na Associação]. Fizemos a casa da fábrica com a madeira daqui. Na tiração de madeira, uma cobra mordeu um companheiro, que morreu. 

Quem comprava, só comprava o palmito da fábrica. Não compravam os potes de palmito que alguns faziam nas suas casas: só se fosse escondido. 

A fábrica fechou porque não tivemos recursos para legalizar a produção. Tinha que ter o rótulo e toda a aprovação dos órgãos. Como não conseguimos, o IBAMA proibiu. Criamos uma cooperativa em Gurupá, que ia comercializar o palmito e vender as mercadorias aqui na comunidade. A cooperativa ficou só com a venda das mercadorias.