A Ilha das Cinzas deve seu nome a um incêndio acontecido há décadas. Bira explica: “A ilha se formou há pouco tempo e a ocupação é mais recente. Não tinha quase açaí, as famílias é que introduziram e manejaram o pouco que tinha.”

Fomos recebidos por seu Antônio e Isauriete, que nos fizeram visitar foi a escola, bem arrumada, instalada em duas construções simples, de madeira sobre palafitas, como as casas dos ribeirinhos. O primeiro barracão tem 4 salas de madeira, separadas entre elas por paredes de madeira, mas abertas para o rio e a mata por meio de duas meia paredes de madeira. O segundo prédio, mais recente, construído para receber os alunos do Fundamental II (do 6º ao 9º ano), tem também 4 salas, totalmente abertas, separadas entre si por cortinas improvisadas de tecido tnt leve. Várias turmas são mixtas: um professor dá conteúdos diferentes para os alunos, de acordo com a série.

No dia seguinte, voltamos lá, para ver a chegada dos alunos. A diretora da Escola, desconfiada, logo veio nos interpelar e proibir fotografias:

– o que estão fazendo aqui?

– visitando a comunidade, trabalhei aqui há 30 anos, quis ver como tinha evoluído; bonita a sua escola;

– não pode tirar foto; a gente deixa tirar foto, depois o pessoal publica dizendo mal da gente, criticando, dizendo que a escola tem isso ou aquilo de defeito; não queremos mais nenhuma foto;

– fique tranquila, estamos apenas visitando e é verdade que achamos sua escola bem organizada, tanto que viemos para ver os alunos chegar e entrar para as aulas;

– bom, olhe lá o que vão fazer…;

Para as professoras, algumas com olhar espantado, outras incrédulas, outras com ares de indiferença, fez uma explicação do risco de deixar bater fotos ou da visita de estranhos. Mas, logo percebeu que talvez fosse melhor mostrar os seus méritos:

– você está vendo isso, mas essas salas quem construiu e equipou foi a prefeita atual, tudo isso aqui;

Várias professoras, com expressões dissimuladas, mas inequívocas, fizeram questão de nos sugerir que não déssemos crédito ao que ela dizia e que seguíssemos em frente com as fotos. Duas delas nos disseram em voz baixa, quando caminhávamos, que a Escola estava lá bem antes da prefeita assumir. Os recursos usados na ampliação recente, explicam, eram do governo federal, e a manutenção da escola (consertos, pintura) é feito pela própria comunidade, sem recursos da Prefeitura.

A diretora acabou por nos convidar a participar de uma atividade que se repete todas as segundas-feiras: uma exposição de uma professora para todos os alunos e professores.

No início da atividade, a diretora nos convidou a explicar aos alunos o que fazíamos e, antes de dar a palavra à professora, resumiu para todos, tanto as suas reticências quanto às fotos não autorizadas, quanto os méritos da prefeita da época, na construção da Escola.

Com todos os alunos em seu redor, uns sentados, a maioria de pé, e, munida de um computador, um projetor e uma tela de projeção, uma professora de 1º ano primário começou então uma exposição sobre o piolho, sua biologia, os problemas que pode trazer para a saúde, como evitá-lo e combatê-lo.