A comunidade de Santa Bárbara está em uma ilha fluvial, no rio Amazonas. Nas ilhas fluviais as terras são da União (governo federal). Em 2002, obtiveram a cessão das terras para a Associação de Santa Bárbara e iniciaram a implantação do Projeto Agro-Extrativista (PAE) que apresentaram para obter a concessão. 

O PAE tem dado certo: à época, havia na ilha 19 famílias; hoje, são 26 famílias, pois os jovens, mesmo quando estudaram fora, foram voltando para Santa Bárbara para se instalar ao lado dos pais. 

Pouco depois de chagar na casa de Seu Alípio, chegou também um vereador do PT de Gurupá, amigo a família, que passava pela região para dar informações e convidar para uma atividade partidária, no salão comunitário. O município vivia, naquele momento, uma intensa agitação por conta de um pedido de impeachment contra a prefeita, esposa de um político local que teve seus direitos políticos cassados por conta de atos de corrupção e havia articulado a eleição de sua esposa. 

Pouco antes de sair para a reunião, seu Alípio, uma das lideranças locais, conta: 

Nasci aqui. Com 7 anos, fui para Macapá, com 13 voltei e estou aqui até hoje. 

As terras eram de Magno Pinto, que era dono de muitas terras, registrou em seu nome. Descobriram quando foram ver, para legalizar. No tempo da cabanagem [1], chegou uma mulher que escapou dos capangas do Muanã [2], com seus quatro filhos. Ela se amasiou com o Magno Pinto, que deu para ela esta ilha. 

Quando ela morreu, os quatro filhos dividiram a terra entre eles. Os limites das terras eram pelas estradas de seringa. Aqui, ficou para um deles, o Trajano. Tive uma mãe de criação. A mãe dela, minha avó, era filha do Trajano.

Notas

[1] Revolta ocorrida entre 1835 e 1840, na província do Grão Pará, inspirada na revolução francesa. O nome tem origem no tipo de residência dos ribeirinhos (índios, pobres, mestiços, negros libertos ou foragidos, etc). A revolta eclodiu em Belém, com a ocupação da cidade pelos cabanos. Em 1836, derrotados, eles se refugiaram pelos rios nas matas ao redor de Belém, onde resistiram até 1840. Em 1833, o Grão-Pará tinha 119.877 habitantes; 32.751 eram índios e 29.977, negros escravos. Da miscigenação de índios, negros e brancos vinham outros 42 mil habitantes. Os brancos eram quinze mil, dos quais mais da metade eram portugueses. Para saber mais: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabanagem 

[2] Município a oeste de Belém, na Ilha do Marajó.